A polêmica de Charles Byrne, o Gigante Irlandês


Os avanços da medicina nem sempre foram alcançados de forma ética. E alguns dilemas do passado ainda reverberam nos dias atuais, como é o caso do esqueleto de Charles Byrne, o "Gigante Irlandês". Byrne tinha cerca de 2,50 m de altura e chamava a atenção de curiosos em Londres, no século XVIII. Muitos médicos da época desejavam estudar o corpo de Byrne para entender com mais detalhes a estrutura do seu corpo e se sua alta estatura era causada por alguma doença. Quando Byrne faleceu, era tradição de sua família levar o corpo ao mar, mas misteriosamente o seu corpo foi trocado por pedras. Anos depois descobriu-se que John Hunter, famoso cirurgião inglês, comprou o esqueleto de Charles Byrne por um valor equivalente a 50.000 libras. 

Desde então o esqueleto de Charles Byrne está em exposição no Hunterian Museum no Royal College of Surgeons em Londres. Mas agora, 200 anos depois, Len Doyal (especialista em ética médica) e Thomas Muinzer (advogado) retomaram a polêmica: devemos seguir o desejo de Byrne e enterrá-lo no mar?! Os autores do texto publicado no BMJ disseram "O que foi feito não pode ser desfeito, mas pode ser moralmente consertado. Certamente é hora de respeitar a memória e a reputação de Byrne".


Será que foi tão errado assim utilizar o esqueleto de Charles Byrne para a ciência? A atitude foi antiética e desrespeitou a vontade pessoal dele, mas trouxe grandes avanços para a medicina: foi somente em 1909, quando o famoso neurocirurgião Harvey Cushing estudou o crânio de Byrne e viu sua sela túrcica bastante alargada, que se estabeleceu uma relação entre acromegalia e a hipófise; e foi através do estudo genético dos dentes de Charles Byrne (publicado no NEJM) que se estabeleceu uma relação genética entre ele e vários outros pacientes  com acromegalia do norte da Irlanda, dando a oportunidade dessas pessoas receberem melhor atenção médica.



E o desfecho da história? A diretoria do museu considerou que "os benefícios para a educação e pesquisa justificam reter os restos" de Charles Byrne. E se um dia você for a Londres, é só fazer uma visita ao Hunterian Museum pois o esqueleto continua lá, no mesmo lugar onde esteve nos últimos 200 anos.





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