Exame do Cremesp: solução ou confusão?


Em sua 7ª edição, o Exame do Cremesp aplicado aos alunos do sexto ano de medicina causou mais uma vez grande impacto na mídia: 46% dos alunos foram reprovados! Jornais por todo o Brasil anunciaram e afirmaram: "é um falta de respeito à população que confia sua saúde aos médicos". Mas antes de ler manchetes por aí, vamos entender um pouco mais sobre o Exame do Cremesp.

Como funciona?
Criado há 07 anos com intuito de avaliar os concluintes de medicina do Estado de São Paulo e, de certa forma, chamar atenção à abertura indiscriminada de faculdades de medicina, o Exame do Cremesp é gratuito, voluntário e (diferente da prova da OAB) não é pré-requisito para exercer a profissão. 
Em 2011 foi realizado em uma única etapa, que consistiu numa prova objetiva de 120 questões distribuídas nas áreas básicas da medicina. A nota considerada de corte é 6.

Resultados
Nos últimos anos, o índice de aprovação foi sempre inferior a 60% e isso tem chamado grande atenção da mídia e das entidades médicas. Todavia, sempre houve grande resistência dos alunos e de algumas instituições à aplicação desse exame e isso dificulta a análise dos resultados.

Tabela 01 - Participantes e índice de aprovação do Exame do Cremesp 2005 a 2011

Atualmente existem 30 escolas médicas em São Paulo, formando cerca de 2.500 médicos por ano. O Exame do Cremesp de 2011 contou apenas com 418 participantes, que correspondem a 16% do total. Mas surge a dúvida: será que os piores alunos não fazem a prova temendo o resultado e esse índice de reprovação na verdade corresponda a números piores? Ou será que os alunos muito bons não querem fazer a prova porque acham desnecessário? Apesar de alunos de 25 escolas terem participado, a distribuição heterogênea da quantidade de alunos e a ausência de algumas faculdades (como a FMUSP) impedem que um ranking de escolas seja realizado (não que fazer um ranking seja uma boa ideia!).


Solução ou confusão?
O Cremesp acredita que esse exame firmou-se como uma proposta inovadora de avaliação do ensino médico e é favorável a um exame obrigatório no final do curso. Mas será que isso de fato é a solução?! 
A prova é até interessante e bem feita (quem tiver curiosidade, veja os links abaixo para acessar as provas anteriores na íntegra), mas não deixa de ser uma avaliação pontual! Além disso, se o grande problema da medicina se deve à abertura indiscriminada de novas escolas que têm pouca ou nenhuma estrutura (física e pedagógica), a solução deve ser proibir novas escolas e fechar as que não funcionam! 
Outra falha do Exame do Cremesp é esperar o final do curso para avaliar os estudantes de medicina: à essa altura não há muito o que corrigir! E é aí que entra outra grande solução para o problema da educação médica: o Teste de Progresso, avaliação aplicada anualmente, de modo que há tempo para detectar e corrigir falhas no ensino. O Teste de Progresso já é feito em diversas instituições no país através de consórcios entre universidades (há dois no Sul-Sudeste e outro no Nordeste) e tem sido bastante promissor! 


Para ler na íntegra o relatório do Cremesp sobre o Exame de 2011, clique aqui.
Para acessar o edital do Exame do Cremesp de 2011, clique aqui.
Para acessar as provas e gabaritos dos Exames do Cremesp dos anos anteriores clique nos links:
Prova 2008     Gabarito 2008
Prova 2009     Gabarito 2009
Prova 2010     Gabarito 2010

3 comentários :

  1. muito bom seu blog... tenho ele no meu feed faz um tempo...
    concordo contigo, uma avaliação no final do curso é totalmente imbecil. minha faculdade realiza o teste de progresso e não parece ser tão promissor, pra mim, seria necessário, além do teste "escrito" de progresso, provas práticas e, principalmente, maior fiscalização dos cursos de medicina. Quem nunca ouviu historias de faculdades que não possuem internato?
    Pra mim esse exame é mais um jeito brasileiro de corrigir um problema mais complexo.

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  2. A minha posição sobre esse assunto é muito semelhante a do SIMERS (sindicato médico do RS): o ônus pela formação médica deve ser dividido entre as universidades e os alunos através de avaliações periódicas ao longo do curso, de modo que ninguém se forme sem ser, de fato, médico. Por exemplo, um exame no fim do segundo ano contendo as matérias que um aluno de medicina ao fim do segundo ano deve saber, outro no fim do quarto e outro no fim do sexto. Se um ou dois alunos forem mal, eles repetem esses exames ou matérias. Se, por outro lado, 70% da turma for reprovada, por exemplo, aí se pode concluir que o problema está na faculdade e as autoridades competentes devem agir da maneira que for necessário - diminuindo o número de vagas, fechando, etc.

    Se ocorrer como o CREMESP acha que deve ser, vai ocorrer o mesmo que ocorre com as faculdades de direito - a universidade entrega o diploma para o aluno, diz que sua parte já está feita, e ele que se vire. Nunca ouvi falar de faculdade de direito sendo fechada por causa dos seus índices de reprovação na OAB... Ademais, ocorreria com a medicina algo semelhante ao que ocorre hoje com o direito, ou seja, duas categorias de médicos... um médico que trabalha e ganha pouco porque não tem a licença para exercer a medicina e outro que só carimba e assina por ter a licença. E isso não trará benefício nenhum para a população.

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  3. Sistema para médicos on line

    acesse

    www.guiata.com.br/dr

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